Nelson Coelho (Monte Santo de Minas, 7 de janeiro de 1928 – São Paulo, 29 de agosto de 2014) foi um romancista e contista brasileiro, tendo também trabalhado como jornalista e crítico de arte.
Saudado pelos críticos, na companhia de Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Dalton Trevisan, como um dos melhores contistas brasileiros, Nelson Coelho publicou treze livros entre contos e romances.
Idealizou e organizou, em 1956, com Lygia Fagundes Telles, o I Congresso Brasileiro de Contistas.
Como jornalista, foi por dois anos correspondente do Jornal do Brasil em Nova Iorque, editor da Revista Senhor (1970-72) e colunista da Folha da Manhã. Foi crítico de Artes Plásticas e, em 1961, júri de seleção e premiação da VI Bienal de São Paulo. Em 1966 foi Editor de Arte do Jornal da Tarde.
No período em que foi jornalista em Nova Iorque (1956-58) cursou Literatura Comparada na New York University. E residindo em Londres (1968-69), estudou Psicologia no University College London.
Foi casado por 60 anos com a engenheira civil (Poli – USP) Aycilma Caldas Coelho. Pai do psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP, Nelson Ernesto Coelho Junior, e avô do economista e matemático Murilo Getliger Coelho e da estudante universitária de dança Manuela Getlinger Coelho.
Em 2009, Nelson Coelho lançou seu site pessoal, no qual passou a disponibilizar, gradualmente, seus livros para download gratuito. Em 2020, há um conjunto de obras disponível para download que reúne a maior parte dos livros publicados e um conjunto relevante de textos inéditos.
Críticos que julgaram as obras de Nelson Coelho: Sergio Milliet, Adolfo Casais Monteiro, Wilson Martins, Fábio Lucas, Naief Sáfady, Luiz Carlos Lisboa, Hélio Pólvora, Salim Miguel, Jorge Mautner, entre vários outros.
Estreou na literatura em 1952, com “Contos Menores”. O crítico Sérgio Milliet, criador da Semana de Arte Moderna de 1922, com Mário de Andrade e Oswald de Andrade, escreveu sobre esse livro no jornal O Estado de S. Paulo: “Com sua técnica inédita em nossa ficção, seu surrealismo surpreendente e humor voltairiano…” Mas foi a partir dos contos de o “O Inventor de Deus”, no início da década de 60, que o estranho universo literário de N.C. iria conquistar um espaço particular na moderna literatura brasileira.
Sua arte muito pessoal de ver o lado mítico das coisas e de mostrar a realidade pelo contraste com o absurdo, atraiu logo os leitores interessados em intensas aberturas existenciais. Talvez por isso, Hélio Pólvora tenha ligado o livro “Nas Pernas do Longo Rio” (1972) ao mundo mágico de Hermann Hesse: “O Homem de Nelson Coelho retoma assim o debate de Hesse – a procura de cada um de nós como fonte de conhecimento – a partir de uma realidade conquistada…Mostrando um panorama inquietador em que entredevoram homens e lobos”. Colocação essa com que discordou Luis Carlos Lisboa, ao comentar este mesmo livro: “N.C. sempre segue seus próprios caminhos, sem as influências que já lhe atribuíram – Hesse, Lispector. Esse estranho e fascinante livro trata do mesmo tema de suas obras anteriores: o encontro do homem com sua realidade interior. É uma obra original e desconcertante”.
Quanto ao sentido de invenção literária, José Paschoal Rossetti iria também polemizar: “Na verdade, os concretistas são uma vanguarda, mas não estão na frente. Talvez diante deles estejam uma Clarice Lispector, um Nelson Coelho, um Dalton Trevisan”. E Fábio Lucas, escrevendo sobre um de seus contos, destacava sua “expressiva surrealidade e profundidade filosófica”.
Seus livros figuram entre as mais profundas obras do pensamento moderno brasileiro, tendo influenciado muitos escritores, entre eles o grupo fluminense do movimento Nova Ordem e a linha editorial do jornal e blog O Curinga de Búzios onde tem sido homenageado com artigos, crônicas e entrevistas.
Livros Publicados:
- “Contos Menores” (1952) Edições Ulisses
- “Quase Édipo” (1954) Edição da Revista Marco
- “O Primeiro Homicídio” (1955) Edições Edigraf
- “O Inventor de Deus” (1962) Editora Francisco Alves
- “Ilha do Sol” (1965) Von Schmidt Editor
- “Nas Pernas do Longo Rio” (1972) Inter Editores S.A. – Revista Senhor
- “Zen – Experiência Direta de Libertação” (1978) Editora Itatiaia
- “Casos de Vida ou Morte” (1980) Editora Atlantis
- “Depois do Nada” (1983) Global Editora
- “Sedução em Creta”(1986) Editora Balbec
- “Esse Irresistível Desejo Feminino” (1997) Editora Plêiade
- “Charmene – O Desejo da Sedução” (1998) Edições Brasil- França
- “Um Amor de Mulher” (2003) i@ditora
Última Entrevista (publicada em 19 de setembro de 2010, no blog “O Curinga de Búzios”, realizada por Victor Viana).
“Finalmente a entrevista com o grande escritor Nelson Coelho. Foi correspondente do JB e editor da Revista Senhor.
O escritor Nelson Coelho foi uma espécie de ícone da minha adolescência, teve uma importância enorme para meus amigos, como o Artista plástico e músico Naldo Marquez e o músico Alex PP. Achávamos que tivesse tido importância para o Biólogo e escritor Arildo Guimarães, mas em entrevista a esse Curinga disse que foi apenas uma leitura divertida, já o cineasta Luiz Maciel disse se lembrar de nossas conversas sobre ele sem muita solenidade. O importante é que depois de mais de dez anos fuçando consegui encontrar o cara. Propus uma entrevista, ele aceitou. Baixei seus livros gratuitos em seu site oficial www.nelsoncoelholiteratura.com.br e distribui a mais outros amigos para ajudarem na entrevista ao cara que eu e o Naldo (Marquez) muitas vezes chamamos de mestre. Ele se mostrou solicito e simples, nos impressionou com sua simplicidade. Combinamos que enviaríamos umas perguntas e conforme ele respondesse elaboraríamos mais outras e assim levaríamos a cabo a tão esperada entrevista. Logo na primeira leva de perguntas voltaram apenas algumas respondidas, enviamos novamente e não obtivemos repostas. Elaboramos novas perguntas e mais uma vez só algumas foram respondidas. Enviamos uma série de perguntas feitas pelo Naldo Marquez e nenhuma obteve resposta. Bem, vamos lá:
“Nelson, você foi correspondente do Jornal do Brasil, escreveu para vários jornais e inclusive foi editor da Grande Revista Senhor. Não acha que faz falta uma revista como ela no mercado? Você ainda atua como jornalista?” eu perguntei e Nelson Respondeu- deixou claro que eu o chamasse de Nelson e não de senhor, como eu havia feito de início, o que me encheu de admiração: “- Sempre se pode fazer uma nova revista Senhor, por que não …Não mais atuo como jornalista. No jornalismo pode-se aprender muito na arte de lidar com as contradições.”
Após essa resposta seguiu-se mais perguntas. Naldo Marquez perguntou: “No Livro “Nas pernas do Longo Rio”, foi um exercício literário, apenas uma brincadeira ou realmente a busca por uma inovação consciente?” Resposta econômica de Nelson: “Talvez uma proposta de inovação não intencional.”
Esmael Carolho mandou sua pergunta: “Você ainda é Zen Budista?”, econômico mais uma vez: “Evidente que sim. E recomendo.”
Fiz uma pergunta e finalmente Nelson deu sua primeira resposta um pouco mais longa: “Há quem considere seus livros surrealistas, eu discordo, mas percebo realmente um pouco da influência desse movimento em você, mas como você classificaria sua obra?” Resposta: “- De acordo. Talvez um pouco de surrealismo, um pouco de Kafka. Mas acho que para evitar o excesso de realismo. A arte literária, a meu ver, deve dar menos ênfase ao tema, ao assunto, que a seu tratamento. Arte literária é expressão. É invenção (Pound). Coisa que o realismo atual parece detestar.”
Para fechar a primeira leva de perguntas a Nelson Coelho, coube a Raquel Nascimento perguntar: “Em seus livros há uma forte ênfase na sexualidade, em especial a feminina. A mulher é a sua esfinge?” e Nelson responder: “- Adoro mulher. Seu fascínio maior talvez esteja no fato de ser tão indecifrável quanto a esfinge.”
Depois disso enviamos mais umas dez ou doze perguntas e Nelson Coelho respondeu duas, uma minha e outra da Raquel: “Aproveitando o Gancho da pergunta do Esmael, eu também queria perguntar algo relacionado a budismo, zen e outras coisas ligadas a religiosidade. Eu sou católico de formação. Mas desde quando li o “Nas Pernas do Longo Rio” em 1999 pratico o zen indisciplinadamente e agora tenho tentado ir mais fundo, mas ainda creio e me pauto na vida como cristão, a minha pergunta é: Você vê possibilidade de avançar no zen crendo em um Deus pessoal, que é o meu caso, ou uma vida zen só ocorre em plenitude realmente sendo budista?” Resposta: “Tanto o Taoísmo como o Budismo são religiões. Mas o Zen se desenvolveu a partir de ambos como uma filosofia pratica de vida. O Yin, Yang e Tao – digamos tese, antítese e síntese é a fonte básica do Zen. O praticante do Zen não se apega ao dualismo. Nem somente yin, nem somente yang. Também não pratica o apego ao Monismo onde tanto Yin com Yang se dissolvem no Tao. O Zen é uma prática, em todos os agoras, da dinâmica dos opostos. É a vivência duma energia vital, sábia, que já está em nós antes do apego a monismos ou dualismos. Atenção descontraída. Descontração afirmativa. Em todos os agoras.”
“Que importância você dá a semana de 22, e te influenciou de alguma forma? Acompanha algum escritor jovem de hoje? Vê alguma coisa que te chame a atenção Conviveu com Clarice Lispector…como ela era como mulher, já que como escritora sabemos? “perguntou Raquel Nascimento obtendo a ótima resposta: “Minhas influências literárias não são diferentes das dos escritores modernos até a década de 70, quando a arte literária cedeu lugar aos best-sellers não literários. Flaubert, Dostoievsky, Tchekhov, Rilke, Joyce, Proust, Kafka etc. Você é uma jovem escritora, espero. Quanto à Clarice, um pouco mais que amigos. Uma bela mulher em todos os sentidos.” E daí para frente Nelson não respondeu mais…
Fico com uma boa lembrança desse breve contato com esse escritor ainda tão importante para mim, eu envie a ele alguns poemas meus e ele me deu essa resposta: ” Gostei do que li, versos rápidos, emoções rápidas, imagens rápidas. Muito bom!”